Gioconda Martinez destacou ainda que esse tipo de telha não é mais tão vendida atualmente no mercado da construção civil, justamente porque a qualidade deixava a desejar diante ao clima roraimense.
“Essa é uma telha que passou o boom de uso dela, o apelo comercial. O pessoal vai tendo a experiência (negativa) e vai deixando de lado. E surgiram também outros tipos de telha”, disse, acrescentado ter visto outros casos parecidos de telhas derretidas pelo sol ao longo da carreira como engenheira e pesquisadora.
Ela também explicou que se usado o material correto em construções civis, esse amolecimento não irá acontecer. A unidade do período chuvoso também pode ter contribuído para o desgaste.
“Às vezes, dependendo do tipo de composição feita, com excesso de umidade nas épocas de chuva também ocorre isso. Mas, nessa época de insolação severa, possivelmente, afetou a vulnerabilidade do cimento asfáltico ao calor”.
Já o doutor em física pela Universidade de Campinas (Unicamp) e também professor na UFRR, Roberto Câmara, explicou que o fenômeno que causou se chama “intemperismo” e, embora, cause essa percepção de derretimento, o que houve, na verdade, foi o “amolecimento” das telhas.
“Esse processo que ocorre pela ação da chuva e do sol, chamamos de intemperismo. Ele não causa derretimento diretamente, mas causa o desgaste do material, principalmente perda das propriedades mecânicas. Ou seja, não há possibilidade da ação de chuva e sol derreter o material, mas sim de amolecer”, explica.
Ele destacou que para derreter um material como uma telha comum é necessário que haja uma exposição a 400 graus Celsius.
A casa está abandonada. O portão, enferrujado, está aberto e o quintal consumido por capim. Dentro da casa, o forro caído dá destaque ao derretimento das telhas. Vizinha do local, a funcionária pública Helena Melo, de 59 anos, dona de uma loja de artigo de festas ao lado, acompanhou o “derretimento” da telha de camarote.
Ela conta que com o amolecimento, o teto virou uma espécie de “bacia” acumulando água e sujeira.
“Eu acompanhei o processo de ‘derretimento’ dessas telhas e foi por conta de sujeira mesmo. Meu marido chegou a subir uma época para furar as telhas pois elas acumulavam muita água, muita sujeira, muito odor, muito mosquito… Já tava derretendo mesmo então deu um jeito da água descer”.
“Chega a ser cômico, é quase uma casa de cera derretendo”, diz.
Ela conta que quando construiu a casa onde mora, o local era de propriedade do Conselho Regional de Medicina (CRM), e a casa foi abandonada há 15 anos atrás, após passar por uma reformar em que chegou a trocar a telha por uma mais barata.
“Logo que a gente chegou aqui para morar já existia esse terreno aqui do lado, que era do CRM e já tinha essa casa. Quando eu construi essa que eu moro, eles chegaram a reformar essa que tá abandonada hoje. Era uma época que usavam muito telhas ‘vagabundas’, era moda por ser mais barato. Só que ninguém nunca mais ocupou a casa e isso já tem cerca de 15 anos”.
Ela reclama que o espaço acumula sujeira e propicia a propagação de mosquitos no bairro. Ela conta que pessoas vão de quatro em quatro meses apenas para tirar o capim que constantemente cresce e depois abandona o local novamente.