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Estudante da USP ganha Prêmio Internacional de Energia Atômica

Ana Gabryele Moreira, 29 anos, é natural de Cajazeiras, área periférica de Salvador (BA). A jovem faz mestrado em tecnologia nuclear pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), associado à USP (Universidade de São Paulo), e se tornou a primeira mulher preta brasileira a receber o Prêmio Marie Curie da Agência Internacional de Energia Atômica, ligada à ONU (Organização das Nações Unidas).

Formada em física médica pela UFS (Universidade Federal de Sergipe), Ana Gabryele segue no próximo ano para o exterior para continuar os estudos nas áreas de exatas com a bolsa obtida pela premiação. “O valor da bolsa varia entre 10 e 40 mil euros, e inclui a oportunidade de estágio e um auxílio mensal”, diz ela. Segundo Ana Gabryele, o local de estudo não está definido, podendo ser a sede da agência, que fica em Viena, na Áustria.

A oportunidade da bolsa surgiu de um trabalho acadêmico com foco em incentivar mulheres a ingressar no mundo da energia nuclear. “Eu, Priscila Rodrigues, Karoline Suzart e a professora Nelida Mastro realizamos um estudo com a Win Brasil para analisar o perfil sociocultural das mulheres do Ipen”, conta Ana Gabryele.

O resultado do trabalho mostrou que 84% das mulheres do instituto eram brancas, 10% negras, não havia mulheres indígenas e poucas mulheres ocupavam espaços de liderança no Ipen. “Nós criamos um formulário que podia ser respondido de forma voluntária, e ele ficou disponível durante quatro meses”, relata. Outro dado de destaque do estudo é que as mulheres do instituto foram e são orientadas por homens. “É predominante, mais de 50% delas apontaram isso”, acrescenta a jovem.

“Quando soube da premiação, gritei muito, fiquei rouca. Quero mostrar a todos que uma mulher preta pode ser atuante na área nuclear!”, diz ela. “É importante lembrar que se não houvesse o apoio de políticas públicas na minha vida, eu não teria como me tornar inspiração e chegar onde estou hoje”, frisa.

“Não cheguei sozinha aqui, pessoas foram fundamentais na minha trajetória e preciso mencioná-las: Linda Caldas, Constância Pagano, Mitiko Saiki, Denise Furgaro e Maria Elisa Rostelato”, afirma.

Sobre o futuro, Ana Gabryele diz que vai expandir o projeto de pesquisa com as mulheres em nível nacional para entender, acolher e obter informações de outros institutos espalhados pelo Brasil.

“Eu tenho acesso a universidade por meio das cotas, me mantenho por assistência estudantil”, relata. “Sou a primeira pessoa da família a ingressar na universidade pública.”

Ana recorda que, em sua infância, os pais sempre a incentivaram a estudar. “Eu vim de escola pública e posso dizer que, quando você estuda e se forma, sua família também ganha com você porque aumenta a renda, ocorre a ascensão econômica”, avalia. “Você passa a ter hábitos novos, como, por exemplo, comer uma comida diferente que antes você não comia”, explica.

“Quando a gente dá um passo, a gente não regrede mais”, finaliza a jovem ao se referir ao poder de transformação que a educação tem sobre a vida das pessoas.

*Estagiário do R7 Sob supervisão de Karla Dunder

 

R7

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