Um adolescente de 16 anos, morador de um quilombo localizado em Iporanga, no interior de São Paulo, precisou ser carregado, por quase duas horas, em uma maca improvisada e em um burro para conseguir chegar até o pronto-socorro da cidade, a 12 km de distância. Isso porque, uma estrada que já deveria ter sido construída para facilitar o acesso dos moradores da comunidade até o Centro da cidade, nunca saiu do papel.
Um vídeo gravado pelo próprio pai do adolescente expõe a situação precária de acesso aos serviços essenciais que a comunidade do Quilombo das Bombas vive. “Essa estrada já era para ter saído, ninguém fala mais nada. Só querem saber de concessão. O resto, que morra todo mundo”, desabafa na gravação.
Edmilson Furqin de Andrade mora desde que nasceu no quilombo. Seu filho, Kaíque de Andrade, acordou com febre de 42°C nesta quinta-feira (3) e começou a ter convulsões. Precisando urgentemente de atendimento médico – mas sem estrada para facilitar o acesso de uma ambulância –, o homem juntou quatro parentes e improvisou uma maca para carregar o menino inconsciente.
Eles andaram por 45 minutos, se revezando para carregar o peso nos ombros por uma trilha estreita na mata fechada. No meio do caminho, Kaíque já tinha acordado do desmaio e conseguiu se apoiar em um burro, que o carregou até chegar à cidade de Iporanga. Na cidade, uma ambulância o esperava para levá-lo até o pronto-socorro.
Kaíque está internado no pronto-socorro do município. Ele já foi medicado, passou por exames e aguarda os resultados.
“Se não fosse Deus, eu teria perdido meu menino por causa de uma estrada”, desabafou o pai ao g1. “Foi por muito pouco. Chegamos aos 45 minutos do segundo tempo”.
Quilombo das Bombas
Iporanga, localizada no Vale do Ribeira, tem cerca de 5 mil habitantes. A comunidade do Quilombola das Bombas, por sua vez, é formada atualmente por 23 famílias. O acesso à comunidade se dá pelo Km 6 da Rodovia Antonio Honório da Silva (SP-165), que liga Iporanga a Apiaí. Há apenas uma trilha que exige horas de caminhada ou montaria.
A situação vivida pela família de Kaíque expõe a necessidade de melhores condições de acesso à comunidade. Uma estrada deveria ter sido construída para melhorar a qualidade de vida dos moradores, mas o projeto nunca saiu do papel. O g1 questionou o Governo do Estado sobre a situação mas, até a última atualização desta matéria, não obteve retorno.