Sinal de X feito com sangue na mão salva mulher ao pedir ajuda em farmácia; agressor foi preso e depois liberado

A marca de um X vermelho feito na palma da mão com o sangue que escorria de sua cabeça foi o sinal que tirou L P dos S, 44 anos, do ciclo da violência doméstica que vivia.
Violência psicológica, patrimonial, sexual e física foram vivenciadas pela empregada doméstica durante 4 dos 5 anos de casamento em Rondônia. “Eu tenho marcas no rosto, na cabeça, quando ele me agrediu com uma panela de pressão, e marcas pelo corpo todo, até um tiro na perna eu levei. Ele ameaçava me matar, matar minha família, colocar fogo em mim dormindo. Falava até o jeito que eu ficaria se eu morresse queimada. Então eu tinha muito medo disso, isso mexe muito com o psicológico da gente. Só quem passa pela violência sabe o tanto que mexe com a gente”, relembra.
Depois de mais um episódio de agressões seguidas, que incluíam socos, chutes, cortes, queimaduras e lesões com objetos domésticos, L pediu que o ex-marido a levasse em uma farmácia, para fazer um curativo na cabeça, que estava sangrando muito devido a um corte profundo causado pelas agressões.
Depois de obrigá-la a manter relação sexual com ele, o que se enquadra no crime de estupro, o ex-marido concordou em leva-la à farmácia. No local, L ficou sozinha diante da farmacêutica por alguns segundos, enquanto ele pegava a chave no carro, e foi nesse instante que mostrou rapidamente o sinal de socorro divulgado em campanhas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), tribunais e associações de magistrados para ajudar vítimas de violência doméstica. A profissional entendeu o pedido de socorro e pediu que o ex-marido aguardasse do lado de fora enquanto L seria levada para uma sala para fazer um curativo.
“Eu cheguei e falei para ela: me ajuda, me ajuda, por favor. Ela me disse para ficar calma, respirar e ligou para a polícia. Ele foi levado, mas eu não sei por qual motivo, ele saiu em menos de meia hora. Eu fui para um hotel, pedi ajuda para o hotel, dormi só com a roupa do corpo e dali eu vim embora só com minha documentação. Cheguei em Pontes e Lacerda/MT sem nada, comecei do zero e hoje tenho tudo”, relata L.
Em Pontes e Lacerda/MT, ela conseguiu um emprego como empregada doméstica na residência da família de um juiz e passou a reestruturar sua vida, conseguindo recuperar todos os itens materiais que havia deixado para trás, além de conquistar sua casa, seu espaço, sua liberdade e sua dignidade.
Em julho de 2022, quando o magistrado foi transferido para Cáceres/MT, L se mudou também e afirma que se sente muito amparada, tanto pelo patrão, quanto pelo aparato do sistema de justiça e segurança da cidade.
Mesmo se mudando de estado e passando por duas cidades diferentes, o ex-marido a perseguiu em Pontes e Lacerda/MT , descobriu seu endereço atual por meio de uma conta de energia elétrica e a ameaçou por telefone.
Com a ajuda do magistrado, L registrou a ocorrência na Delegacia da Mulher e obteve uma medida protetiva. “Sou muito grata ao meu patrão, ao pessoal da delegacia. Cáceres/MT , em termos de violência contra a mulher, eu não tenho o que reclamar. Eles nos tratam muito bem. Minha história é muito dura, mas eu venci. Eu tinha medo de sair, tinha medo de me arrumar, passei por acompanhamento psicológico por um ano e encontrei pessoas maravilhosas na minha vida”, conta.
Por fim, L dá um recado para outras mulheres que possam estar vivendo uma situação semelhante: “eu digo para qualquer mulher que está me ouvindo nessa hora, não fique, não deixe te bater. Ninguém tem o direito de bater em ninguém. O que eu quero hoje é ajudar outras mulheres que não conseguem sair”.
A história de L foi compartilhada publicamente por ela durante o ato da campanha “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”, realizado na Praça Barão de Rio Branco, em Cáceres/MT, na tarde de domingo (4 de dezembro).
Por; Gazeta Digital