Brasileiro é investigado na Argentina por golpe de U$ 10 milhões

O superesquema montado pela quadrilha chefiada por um casal de empresários acusado de lavar dinheiro da milícia e do tráfico de drogas da principal organização criminosa do Rio vai muito além do crime de ‘colarinho branco’ e tráfico de drogas. A informação consta em relatório de inteligência da Delegacia de Combate à Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro. De acordo com o documento, o empresário Marcelo Clayton Alves de Sousa já vinha sendo investigado na Argentina, desde 2019, acusado de participar de uma quadrilha de investidores de criptomoedas que vitimou dezenas de argentinos e brasileiros que investiram mais de U$ 10 milhões.

O que chama a atenção dos investigadores é a rápida ascensão financeira do homem. Segundo os investigadores, uma pesquisa no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) mostra que Marcelo não possui vínculo trabalhista com nenhuma empresa e não tem carteira assinada. No entanto, movimentou R$ 3 bilhões em três anos.

De acordo com o CAGED, o último vínculo empregatício do homem foi como supervisor de vendas comercial, entre 2014 e 2015, em Balsas, no Maranhão. À ocasião, ele recebia mensalmente R$ 3.639,10.

Um ano após deixar o emprego, em conjunto com outros empresários, segundoo relatorio, ele abriu uma empresa de criptomoedas – a Trade Clube Intelligent Business – em San Vicente, em Belize, um paraíso fiscal que fica no Caribe. A empresa também tinha uma filial em Natal, no Rio Grande do Norte. Rapidamente, de acordo com os investigadores, o negócio se ramificou por diversas cidades argentinas, onde se concentram as vítimas do suposto golpe aplicado por Marcelo.

Em 2019, o jornal ‘Plan B Notícias’ afirmou que o grupo prometia “investimentos em dólares de alto rendimento” no que foi “conhecido como a ‘flor da abundância’”. À época, uma reportagem mostrou que alguns moradores de La Pampa (uma província da Argentina) se dividiram para investir U$ 20 mil na empresa.

“A oferta era tentadora. Tratava-se de entrar em um grupo de investimentos com valores pequenos ou médios e garantir altos retornos em dólares. A empresa foi apresentada como ‘uma modalidade de investimento inteligente’ que nasceu em dezembro de 2016 criando sua própria corretora, registrada no paraíso fiscal de San Vicente, Belize. Eles também tinham escritórios administrativos em Natal, Brasil, onde atuavam no mercado Forex (compra e venda de moedas)”, diz trecho da reportagem, quando a fraude veio à tona.

Segundo a investigação que acontece na Argentina, contra Marcelo e seu grupo, eles promoveram um tipo de pirâmide que se caracteriza por desenvolver o sistema ponzi de investimento, que consiste em investidores que entram na rede para investir valores mínimos, que são distribuídos entre eles. Assim, os investidores ganham juros sobre os rendimentos dos novos participantes e recuperam o que investiram rapidamente, com amplas margens de lucro.

Na prática, os investigadores apontam que o esquema ponzi é uma operação de investimento fraudulenta em que o operador paga aos seus investidores o dinheiro que os novos aportadores entram em vez do lucro obtido através de empresas legítimas. Em suma, os novos membros financiam os pagamentos aos antigos. Entretanto, o esquema pode se estagnar quando não entram mais participantes o que pode levar a quebra da pirâmide.

Atualmente, no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) existem ao menos nove processos contra a Trade Clube Intelligent Business. Os investidores tentam a reparação do prejuízo.

 

Investimento em peso e rentabilidade de 1,5% ao dia em dólares

 

A Polícia Argentina apurou que o grupo de Marcelo prometia aos investidores que aplicassem em peso — moeda do país — receberiam em dólar. De acordo com o bando, o retorno de até 1,5% ao dia em dólares vinha dos lucros gerados pelas supostas operações na corretora e em commodities. E a promessa ia além. O plano de negócios anunciava 300% do investimento em 15 meses, recuperando o capital inicial em apenas cinco meses.

Por um tempo a história até deu certo. Os pagamentos eram feitos em bitcoins através de uma carteira virtual dos usuários e os lucros podiam ser visualizados diariamente através da página do Trader Clube em que cada investidor tinha um nome de usuário e senha.

Entretanto, em janeiro de 2019 começaram as irregularidades de pagamento, segundo a polícia Argentina. Naquele ano, o bando começou a pagar em uma criptomoeda diferente da prometida. Em vez de bitcoins, eles passaram a pagar com IMO “que nunca teve valor de mercado”. Os lesados até tentaram reaver o dinheiro, no entanto, perderam tudo. Muitos deles lutam na justiça até hoje em busca de reparação.

A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio (MPRJ) afirmam que os criminosos do bando de Marcelo usavam criptomoedas para tentar atrapalhar as investigações e o dinheiro não ser rastreado. O empresário teve sua prisão decretada no Brasil, junto com outros sete alvos da Operação Mercador de Ilusões, desencadeada na última quarta-feira, acusado de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e da milícia. Ele mora na Argentina e se encontra foragido da Justiça.

O EXTRA não conseguiu localizar nenhum dos citados.

 

 

Por; Extra