Antibióticos infantis ‘somem’ das prateleiras das farmácias em Cuiabá

Quem tem filho pequeno já deve ter percebido que está mais difícil encontrar nas farmácias de Cuiabá alguns medicamentos que tradicionalmente são muito usados para tratamentos pediátricos. Mas o problema não é só na Capital ou no Estado de Mato Grosso, a falta dos medicamentos é uma realidade em todo o país.

 

“Tem mais de mês que está em falta o antibiótico infantil. Está tipo calamidade pública”, explica Jane Cordeiro, gerente de uma drogaria na Avenida Jornalista Archimedes Pereira Lima, em Cuiabá.

No geral, está difícil encontrar antibióticos em suspensão oral como como a amoxilina, azitromicina, cefalexina, claritromicina, cefaclor e a axetilcefuroxina.

Além disso, de acordo com o farmacêutico Diego Bezerra Rocha, já estão se tornando escassos nos centros de distribuição de medicamentos anti-inflamatórios (como ibuprofeno e cetoprofeno gotas) e também antitérmicos (como dipirona solução e paracetamol bebê).

 

“Todos esses medicamentos dependem de um princípio ativo. E praticamente só tem um produtor no mundo”, explica Diego. Ele relata que os distribuidores estão racionando a venda de produtos. “Na semana passada, estavam vendendo seis frascos de azitromicina em suspensão por CNPJ. É uma forma de evitar que as farmácias menores fiquem sem o produto”, conta.

A razão para a falta desses medicamentos se deve ao aumento na demanda de insumos para que a indústria possa dar continuidade a produção. O Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) é essencial, é como se ele desse a liga na mistura de ingredientes. Mas somente 5% do IFA utilizado no país é fabricado aqui, todo o resto é importado principalmente da China, país que ainda sofre com imposições de lockdown para impedir o avanço da Covid-19. Além disso, a guerra da Ucrânia inflacionou o mercado e fez aumentar os custos para produção dos remédios.

Até mesmo as grandes redes vêm sofrendo dificuldades para oferecer esses antibióticos, mas diferentemente das farmácias de bairros, eles compram direto dos fabricantes e, como adquirem grandes quantidades pensando em formar estoque acabam conseguindo sair na frente. Em contrapartida, as farmácias menores que compram dos distribuidores locais precisam encontrar maneiras de contornar a situação.

 

“Uma possibilidade é usar antibiótico intramuscular, que tem a dose regulada, mas muitos pais não gostam porque é uma judiação com as crianças”, explica Anelita Araújo, gerente de uma farmácia no bairro Pedregal. Mas nesse caso é recomendável realizar um exame, que garanta que a criança não seja alérgica, pois existe o risco de choque anafilático.

Segundo Diego Rocha, uma das estratégias usadas pelos farmacêuticos é sempre que possível comprar em quantidades suficientes para alguns meses. Além disso, os donos de farmácias têm se organizado em grupos de WhatsApp para ajudar a direcionar os clientes para as unidades que possuem os medicamentos. Ou, ainda, comprar de redes maiores pela internet os medicamentos que não precisam de receita. Nesse caso, o valor fica maior para o cliente, mas pelo menos ele consegue o remédio.

Farmacêuticos ouvidos pelo Repórter MT explicam que tem ouvido de distribuidores que a situação não deve melhorar em pelo menos um ano e que a expectativa é que outros medicamentos comecem a rarear nos próximos meses.

 

Por; Repórter MT