Austrália quer usar naftalina como combustível de foguetes; entenda

Já ouviu alguém dizer que uma roupa está “fedendo à naftalina”, em referência ao famoso “cheiro de guardado”? Usada como uma espécie de “repelente natural”, a naftalina é uma substância com odor realmente forte, que já foi muito utilizada em guarda-roupas, armários e gavetas para prevenir o surgimento de traças e outros bichinhos inconvenientes que costumam aparecer nos ambientes mais úmidos e escuros das casas.

Agora, cientistas australianos descobriram uma nova – e curiosa – utilidade para o naftaleno, nome comercial do produto químico presente nas famosas bolas brancas, que, na verdade, trata-se de um hidrocarboneto aromático cuja molécula é constituída por dois anéis benzênicos condensados.

Em apenas seis meses desde o projeto até a conclusão, cientistas da Universidade Nacional Australiana (ANU) projetaram um combustível inovador à base de naftaleno que será testado no espaço em um novo sistema de propulsão de foguete para pequenos satélites.

Chamado Bogong, o combustível será lançado ao espaço em meados de 2022 alimentando um grupo de meia dúzia de pequenos satélites que a empresa de serviços espaciais australiana Skykraft testará para rastreamento e comunicação com aeronaves, em parceria com a empresa espacial Boswell Technologies, sediada em Canberra.

Combustível de naftalina é mais econômico e mais seguro, segundo os cientistas

 

Dimitrios Tsifakis, estudante de PhD da ANU foi quem teve a ideia de usar naftaleno quente em vez de sistemas de plasma a gás quente como propulsor de foguetes para pequenos satélites. “O naftaleno é ideal porque, quando aquecido, vai direto do estado sólido ao gasoso, sem nenhum líquido espirrando no propulsor”, disse ele. “É barato, não corrosivo e facilmente disponível. Você consegue bolas de naftalina no supermercado. Todo mundo conhece aquele cheiro velho no guarda-roupa da vovó; agora é a última novidade na tecnologia espacial”.

Aquecido a cerca de 70ºC, o Bogong transforma o naftaleno sólido em gás, que é ainda mais aquecido durante sua saída do bocal do propulsor para fornecer a combustão do foguete.

Rod Boswell, professor da Boswell Technologies, é o pesquisador líder do projeto. “Projetar um propulsor em nove meses, do projeto ao lançamento, é excepcional”, disse ele. “Esses satélites serão o primeiro passo para tornar a aviação global mais segura de maneira econômica”.

A equipe afirma que o novo projeto do propulsor pode estender a vida útil dos satélites em até 20% – o equivalente a um ano extra de serviço. O projeto usa mais propelente do que o propulsor de plasma, mas usa poucos componentes eletrônicos complicados, de modo que a diferença de peso pode ser usada para aumentar o propelente transportado.

Segundo a professora Christine Charles, chefe do Laboratório de Plasma Espacial, Potência e Propulsão da ANU, que conduziu os testes primários realizados no campus da universidade, a equipe aqueceu protótipos do Bogong dentro da câmara de vácuo espacial simulada espacial da instituição, chamada WOMBAT, para prepará-los para o lançamento.

“Existem poucos lugares no mundo que podem testar as condições do espaço, conduzir trabalhos de laboratório e trabalhar em estreita colaboração com a indústria”, disse ela. “Temos sorte na ANU de ter nosso WOMBAT porque podemos transformar uma tese de doutorado em tecnologia espacial muito rapidamente”.

Christine conta que a equipe trabalhou diariamente no refinamento do projeto, e agora Bogong está pronto para o lançamento. “Lançar bolas de naftalina no espaço pode tornar o céu mais seguro”, declarou.

 

POR; OLHAR DIGITAL