Cientistas do DF estudam na Antártida moléculas contra o câncer

O desenvolvimento de novos medicamentos com potencial para combater o câncer pode sair de uma pesquisa realizada na Antártida por um grupo de cientistas do Distrito Federal. O projeto na área de biotecnologia, parte do Proantar (Programa Antártico Brasileiro), busca entender quais composições genéticas possibilitam que musgos sobrevivam em um ambiente hostil como o continente gelado.

As descobertas de moléculas podem se transformar em matéria-prima para a produção de novos medicamentos contra o câncer, antibióticos e produtos que ajudam no combate ao envelhecimento.

O estudo brasiliense (@briotech_ucb) é coordenado pelo professor do programa de pós-graduação em ciências genômicas e biotecnologia da UCB (Universidade Católica de Brasília), Marcelo Henrique Soller Ramada. Ele e outros quatro cientistas desembarcaram na Estação Comandante Ferraz, nas Ilhas Shetlands do Sul, em 30 de outubro do ano passado, quase dois anos depois da interrupção das atividades no local, causada pela pandemia de Covid-19.

O grupo iniciou estudos com vegetação do cerrado no começo de 2018 e avançou para musgos antárticos em 2019. Esta é a segunda vez que os cientistas brasilienses vão à Antártida para aperfeiçoar a pesquisa.

“Algumas espécies de musgo em especial dominam mais o ambiente que outras, elas parecem mais adaptadas às condições hostis. Existem micro-organismos aqui que atacam essas plantas, mas elas conseguem combater infecções que podem ser causadas por bactérias e fungos da região”, detalha Ramada, que ressalta: a Antártica é o local mais extremo e isolado do planeta, com as menores temperaturas já registradas, os maiores níveis de incidência de raios ultravioleta e as mais velozes rajadas de vento.

A pesquisa brasiliense é focada, principalmente, nas espécieis Sanionia uncinata e Polytrichastrum alpinum. Os musgos são parentes próximos das primeiras plantas a conquistarem o ambiente terrestre e, em geral, podem produzir uma complexidade maior de metabólitos do que outras plantas. “Queremos ver como seria essa aplicação para a saúde humana ou agricultura”, completa o professor.

Apesar de os primeiros resultados serem considerados promissores, Ramada ressalta que há um longo caminho entre o descobrimento de uma molécula e a utilização da substância nas indústrias.

“Já tivemos alguns resultados interessantes de moléculas que podem ser usadas para estudos anticâncer e para doenças neurais. Só que esse processo é um pouco mais longo, tem muitas etapas a serem cumpridas ainda. Nessa vinda estamos coletando material para validar estudos que fizemos aqui em 2019”, detalha.

O Programa Antártico Brasileiro, criado em 1982, é coordenado pela Marinha do Brasil e envolve diversos ministérios (Defesa; Ciência, Tecnologia e Inovações; Meio Ambiente; e Relações Exteriores) e agências de fomento — CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O programa se relaciona com vários países e com o Scientific Committee on Antarctic Research, um comitê internacional de pesquisa antártica, seguindo o disposto no Tratado Antártico e o Protocolo de Madri.

“Só a participação em tal programa já é um fato importante para a pesquisa do Distrito Federal. Além disso, a formação de profissionais capacitados e a possibilidade de realizar uma pesquisa em um local pouco acessível, para responder a perguntas nunca respondidas antes e buscar desenvolver novos medicamentos no futuro, são outras contribuições que a pesquisa traz ao DF”, ressalta o especialista.

O grupo deve deixar a estação brasileira na Antártica no dia 15 de fevereiro. Eles chegam ao Brasil sete dias depois, no dia 22. As pesquisas continuam após o retorno dos cientistas, que devem analisar e processar os dados e material biológico coletado na Antártica.

 Por; R7