Delator diz que pagou R$ 800 mil em “retornos” para advogado

A Operação Cartão-Postal, deflagrada nesta quinta-feira (19) para investigar um esquema de desvios na Saúde de Sinop, só foi possível graças à colaboração premiada do médico e empresário Luiz Vagner Silveira Golembiouski. Ele revelou o pagamento de mais de R$ 870 mil de “retorno financeiro”  ao advogado Hugo Castilho por conta de um contrato superfaturado de prestação de serviços médicos na cidade.

 

A informação consta na decisão do juiz João Bosco Soares da Silva, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo), que autorizou a operação

 

Luiz Vagner, que é dono da empresa Med Clin Serviços Médicos Ltda, firmou um acordo de delação e prestou depoimentos à Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) e ao Ministério Público Estadual.

 

Ele admitiu que integrou uma organização criminosa no fim do ano passado e repasou, entre os meses de novembro de 2022 e janeiro de 2023, o montante de R$ 877 mil a Hugo Castilho, um dos donos do Instituto de Gestão de Políticas Públicas (IGPP) e que foi preso nesta quinta.

O IGPP é uma organização social responsável por gerenciar as unidades de Saúde de Sinop. Além de Hugo, o instituto tinha como sócio o advogado Jefferson Geraldo Teixeira.

 

Segundo Luiz Vagner, a Med Clin firmou contratado com a IGPP em outubro do ano passado para fornecer um corpo de médicos plantonistas para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), policlínica e Corpo de Bombeiros de Sinop.

 

Pelo serviço, a Med Clin receberia R$ 1,3 milhão mensais do IGPP, que por sua vez recebia recursos da Prefeitura.

 

“A devolução”

 

Luiz Vagner revelou que os contratos firmados entre Med Clin e IGPP seriam inflados, ou seja, havia superfaturamento.

 

“Isso está explícito para todo mundo (…). Recebe-se R$ 1.700,00 (por plantão) e paga R$ 1.200,00 (para o médico), tem R$ 500,00 aí que está desaparecido, tá em algum meio. Uma OS [organização social] não pode ter lucro”, disse Luiz Vagner, referindo-se ao status jurídico do IGPP.

 

O primeiro pagamento realizado pela IGPP à Med Clin ocorreu em novembro do ano passado no montante de R$ 1,3 milhão. Conforme Luiz Vagner, após os pagamentos dos médicos e impostos (R$ 1,015 milhão), sobraram entre R$ 335 mil e R$ 340 mil.

 

Foi quando Hugo Castilho lhe procurou e teria exigido a “devolução” de R$ 200 mil. No dia posterior à cobrança, no entanto, Luiz Vagner contou que a cobrança do “retorno” havia aumentado para R$ 277 mil. Caso não houvesse o pagamento, a MedClin perderia imediatamente o contrato com o IGPP em Sinop.

 

Luiz Vieira disse que por medo de perder o contrato aceitou fazer as devoluções, que eram realizadas por meio de Pix (transferências diretas) e TED, em valores menores que R$ 50 mil. Em novembro, o montante devolvido para contas indicadas por Hugo foi de R$ 293.092; em dezembro ficou em R$ 292,2 mil e janeiro R$ 291,8 mil.

 

O delator afirmou que rompeu com Hugo após o grupo tentar se instalar em Cuiabá.

 

Luiz Vieira ainda delatou um esquema no aluguel de ambulâncias para o município.

 

Veja fac-símile:

 

 

 

 

Operação Cartão-Postal

 

Além do advogado Hugo Castilho, a Polícia Civil cumpriu mandado de prisão contra o ex-secretário de Saúde de Cuiabá Célio Rodrigues. Outras quatro pessoas tiveram as prisões decretadas, são elas: Jefferson Geraldo Texeira, Roberta Arend Rodrigues Lopes, Elizangela Bruna da Silva e João Bosco da Silva.

 

Houve ainda a determinação para que o procurador do Município Ivan Shneider, a secretária de Saúde Daniela Galhardo e a servidora de Saúde Elisangela Bruna da Silva fossem afastados do cargo.

 

A ação apura uma suposta organização criminosa instalada, desde junho de 2022, na gestão da Saúde de Sinop (499 km ao norte de Cuiabá). Os contratos investigados somam mais de R$ 87 milhões.

 

Mais de 30 ordens de busca e apreensão foram decretadas. Entre os endereços alvos da operação, estão a casa de Hugo, que fica no Condomínio Alphaville II, em Cuiabá, e a Cervejaria Cuyabana, que é de Célio Rodrigues.

 

CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO

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