Em seminário, Nísia Trindade defende futuro com ciência, saúde e democracia
Julia Prado/MS
“Estamos aqui, reunidos, para lembrar e também para projetar um memorial que fale desse passado recente, que aponte caminhos para o nosso futuro na saúde e na democracia”, enfatizou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante a abertura do Seminário para Criação do Memorial da Pandemia de Covid-19, nesta segunda (11). No Brasil, mais de 700 mil vidas foram perdidas durante a pandemia, uma das maiores emergências sanitárias que o mundo já viveu. O objetivo do seminário, que segue até esta terça-feira (12), é promover um debate entre especialistas, autoridades e profissionais de diversas áreas, que atuaram no combate às fake news durante a pandemia.
A ministra lembrou da dificuldade em lidar com a gestão negacionista que estava à frente da Presidência da República e da omissão de um governo. “Foi uma ação contrária ao cuidado, quando o ex-presidente fez o gesto, em rede nacional, ridicularizando aqueles que perderam o ar durante a pandemia. Nada pode ser mais forte do que essa imagem”, reforçou Nísia.
A proposta do seminário é debater a construção do Memorial da Pandemia de Covid-19, uma instituição capaz de trabalhar, junto à comunidade, a transversalidade de temas como saúde, ciência, educação, cultura e meio ambiente. “Sempre na nossa história defendemos pensar a saúde como parte da cultura, e essa é a importância desse encontro, para reforçar a democracia e a memória, no sentido do cuidar”, destacou a ministra.
O memorial deve abrigar, em suas instalações, uma exposição de longa duração que relate todos os episódios marcantes da pandemia, desde as primeiras notícias ao lockdown, os estudos científicos para o conhecimento do vírus e as mortes, mas também os momentos de êxito e descoberta como as primeiras vacinas, o mapeamento genético do vírus, as ações de solidariedade para disseminação das melhores práticas sanitárias e do combate à fome e ao desemprego, até o avanço das soluções digitais para iniciativas médicas, sociais e culturais.
A pauta também está inserida no Novo PAC, dentro do eixo de Preparação para Emergências Sanitárias, e responde às ações e iniciativas propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que as nações estejam preparadas para o surgimento de novas pandemias. “É isso que está na base de preparação do Ministério da Saúde e no Complexo Econômico-Industrial da Saúde, porque sabemos que não podemos repetir o passado recente, sobretudo que não se repita a situação de junho de 2021, quando as vacinas já existiam e apenas 10% dos países tinham acesso a elas, não pelo negacionismo como vimos no Brasil, mas pela desigualdade na distribuição de vacinas de outros insumos em todo o mundo”, defendeu Nísia.
Para a ministra, só um Sistema Único de Saúde potente e resiliente pode fazer frente a futuras e possíveis pandemias, discutidas pelos governos mundiais. “Pensar em qual projeto queremos para a saúde, para o Brasil, para a democracia e para o mundo deve ser uma política pública efetivada para um planeta menos desigual e com paz”, finalizou Nísia Trindade.
Representante da Rede Nacional das Entidades de Familiares e Vítimas da Covid-19, Rosangela Dornelles, que também é médica de família e comunidade, exaltou o enfrentamento defendido por Nísia Trindade, junto das equipes de trabalhadores do SUS e comunidade científica ao longo da emergência pública. “Precisamos lembrar da bravura dos trabalhadores e trabalhadoras do SUS, que deram suas vidas para combater essa doença”, reforçou.
Rosangela destacou, ainda, que o processo dramático vivido pelas famílias de vítimas do coronavírus impõe que o Estado promova a defesa da dignidade humana e da vida. “Precisamos sim responsabilizar os gestores públicos e privados negligentes ou omissos e recompor as políticas de direito e proteção social, de forma articulada com ousadia e expectativas ampliadas de atenção integral”, destacou.
Ela finalizou comemorando a proposta de construção coletiva para a instalação do Memorial da Pandemia enquanto política transversal, “na esperança que o seminário sele o compromisso de recompor a verdade sobre a tragédia e atuar para reparar suas consequências, como o espaço para homenagear as vítimas, os profissionais de saúde e a sociedade civil que atuou no enfrentamento à pandemia”.
Sobre o Memorial da Pandemia de Covid-19
No encerramento do seminário, nesta terça (12), as ministras da Saúde, Nísia Trindade, e da Cultura, Margareth Menezes, assinam o Memorando de Entendimento entre as duas pastas.
O seminário vai contribuir para a constituição de um plano museológico estratégico e um edital público para escolha do monumento que vai abrigar o Memorial da Pandemia de Covid-19, permitindo que artistas, arquitetos e outros profissionais se engajem na proposta. O edital apontará o melhor local para construção do memorial. Este será um espaço para visitas da população, buscando trabalhar junto à comunidade a transversalidade de temas como saúde, ciência, educação, cultura e meio ambiente. Um ato de reparação e memória, em uma sinalização da importância da busca por justiça.
Será um espaço de superação, de destaque da ciência, da força do SUS, de solidariedade e uma oportunidade de estimular a reflexão dos visitantes sobre a saúde e o mundo que queremos construir juntos, na ampliação do horizonte temático sobre a “Saúde no Futuro”. A ideia é que o Memorial da Pandemia de Covid-19 seja um museu vivo e em constante mutação.
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