Gari perde carteira com salário, casal a acha em BH e vai a Ibirité devolvê-la

“Eu acredito na humanidade, eu acredito na honestidade. Acredito que ainda existem pessoas boas que fazem o bem sem nada em troca.” A frase da autônoma Vanessa Daiana Campos, de 32 anos, resume com gratidão e alívio o desfecho de uma história angustiante. No último sábado(5), o marido, que trabalha como gari há 12 anos, perdeu a carteira no Barreiro com o pagamento do mês, R$ 1.200, dinheiro que seria destinado a quitar as contas mensais.

Após horas de aflição e depois de pedir ajuda pela internet, ela ouviu tocar a campainha da casa, localizada no bairro Jardim Ibirité, em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte. Ao atender ao chamado, viu um casal debaixo da chuva que trazia a boa notícia: os dois haviam trazido a carteira com o dinheiro. “Na hora, veio um misto de sentimentos de gratidão com esperança e felicidade por existirem pessoas como aquelas”, diz, emocionada.

Vanessa conta que o marido, Daniel Sacramento Nazário Gomes, com quem é casada há 14 anos e com quem tem dois filhos vivos e “uma  anjinha que faleceu com 1 ano e 3 meses”, sacou todo o dinheiro depois que ela bloqueou o aplicativo do banco.

“Errei a senha várias vezes, e como ele não sabia desbloquear, pedi para que ele sacasse o dinheiro para pagar as contas”, diz. Então, o companheiro tirou o dinheiro antes de ir trabalhar. Na hora do almoço, ele se juntou a outros colegas para descansar próximo à avenida Silva Guimarães e não notou no momento que a carteira havia caído do seu bolso.

“Ele só deu falta da carteira no momento do fim do expediente e chegou ao voltar no local. mas como lá é uma avenida movimentada, não encontrou”, diz Vanessa, que fez um post no Instagram pedindo na esperança de que pudesse achar o objeto, especialmente porque o casal havia contraído uma dívida recentemente. “Nosso carro quebrou no Eldorado. Sem seguro, tivemos que pagar o guincho e o conserto do veículo, que ficou em R$ 840”, relembra.

Casal gritou pelo nome de Daniel até encontrá-lo

 

Quem Vanessa viu na porta de casa com a carteira foi a auxiliar administrativo Amanda Fabiana Faleiro Soares, de 34 anos, que estava acompanhada do marido, Diego Dawilla Souza Soares. Em conversa com a reportagem, Amanda diz que foi comprar material escolar para os dois filhos em uma papelaria. Ela e as crianças, de 1 e 6 anos, esperaram por ele na porta do estabelecimento, quando viram o homem voltar aflito. Diego havia achado a carteira na rua Águas da Prata, que cruza a avenida Silva Guimarães, e se assustou ao ver tanto dinheiro junto. Nenhum dos dois havia visto o post.

“Nós abrimos a carteira e vimos que tinha uma agenda, mas sem nenhum telefone nem identificação, apenas com uma habilitação. Meu marido, então, disse que tinha visto alguns garis descansando e que iria até eles. Ele foi, chegou a conferir se o rosto dele batia com o da foto da habilitação, mas, como não encontrou, voltou com a carteira”, afirma Amanda, que não sossegou por não encontrar o dono da carteira.

Por isso, ela passou a parte procurando por Daniel nas redes sociais, mas não encontrou nenhum perfil que batia com a foto da habilitação. Então, com a ajuda de um familiar, ela encontrou o possível endereço do gari, deixou os filhos com a mãe e partiu de Contagem com o marido para Ibirité.

Chegando lá e debaixo da chuva, os dois começaram a gritar pelo nome de Daniel na porta de uma das casas onde ele moraria. Entretanto, na casa havia apenas cachorros que começaram a latir diante da presença deles.

“Como estava chovendo muito, não tinha ninguém na rua, estava tudo fechado. Continuamos a gritar e a bater na casa, até que um rapaz, que mora do outro lado da rua, disse que o Daniel não morava mais lá. Então, fomos até ele e contamos que havíamos achado a identidade do Daniel, e ele nos indicou o novo endereço dele”, diz.

Ao chegar na casa, Amanda foi recebida por Vanessa, e esta chamou o marido. O casal entregou inicialmente apenas a habilitação. “Nossa maior preocupação era que o dinheiro fosse justamente do pagamento inteiro dele e confirmamos que realmente era. Ao entregar a carteira, senti alívio e felicidade. A Vanesa chegou a perguntar se queríamos alguma ajuda, com a gasolina por exemplo, e dissemos que não precisava. Ela disse, então, que gostaria de tirar uma foto nossa, já que muitas pessoas já haviam se disponibilizado para ajudar a família”, diz.

Dessa história, além da gratidão, fica o ensinamento para os filhos sobre valores como honestidade e solidariedade. Tanto Vanessa quanto Amanda repassaram a lição aos filhos da importância de ajudar pessoas, inclusive aquelas que não conhecem. “Tudo que aprendi tento repassar pra eles”, conta Amanda. “Sempre ensino aos nossos filhos a honestidade e o respeito com o próximo e a se colocar no lugar do outro”, finaliza Vanessa.

 

Por; O Tempo