Mototaxista que ajudou vizinhos com colchão inflável relata tensão durante enchente na BA: ‘achei que estavam todos mortos’

A cidade de Itabuna, no sul da Bahia, ainda sofre muito com os estragos provocados pela enchente dos últimos dias, após a cheia do rio Cachoeira provocada pelas chuvas dos últimos dias. Um dos bairros mais atingidos foi o Mangabinha. A parte baixa do bairro foi a mais afetada com a enchente.

Apesar do cenário de destruição, a comunidade tem se reunido para a reconstrução do bairro e se inspirado em histórias como a de Francisco de Chagas, o Chico. Ele é mototaxista e mora na parte alta do bairro, onde não houve alagamento. Apesar disso, durante a cheia, Chico ajudou vizinhos com um colchão inflável, que usou para levar água mineral, vela, fósforo e remédio para os atingidos.

“O pior momento que passei foi quando cheguei nas casas e gritei avisando que estava com remédio, vela, fósforo e água, e ninguém respondeu. Ficou um silêncio. Aí me desesperei, achei que estavam todos mortos”, contou Chico ao g1.

A ação do mototaxista foi fundamental para vizinhos como a chef de cozinha Nataly Araújo Bittencourt Menezes. Chico levou remédios até a casa da mulher, que passava mal diante da situação de caos.

“Se não fosse Chico, eu teria infartado porque minha pressão estava muito alta por conta da situação toda. Eu tinha esquecido de comprar o meu remédio. Ele foi o meu herói e sou muito grata”, relembrou emocionada.

Após a água ter baixado, Chico segue trabalhando voluntariamente para ajudar as pessoas atingidas pela chuva. Agora, ele usa a moto para levar água e mantimentos do ponto de coleta na praça do bairro até os moradores do bairro e de outras comunidades que também foram atingidas. “Fico mais tempo ajudando do que fazendo corrida”, disse.

A situação no bairro, como em outros pontos da cidade, ainda é de caos. Um trator tem ajudado a retirar o que sobrou das casas que foram inundadas. Na rua Ubaldino Brandão, várias montanhas de entulho e lixo ainda estão no local. Armários, guarda-roupas, eletrodomésticos, alimentos, camas, colchões, roupas estão entre os objetos perdidos por dezenas de famílias.

24 mortes e 629 mil afetados

número de mortos por causa da chuva na Bahia subiu para 24, na quarta-feira. Os dados foram divulgados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), que contabiliza 91.258 pessoas desabrigadas ou desalojadas.

As mortes ocorreram em Amargosa (2), Itaberaba (2), Itamaraju (4), Jucuruçu (3), Macarani (1), Prado (2), Ruy Barbosa (1), Itapetinga (1), Ilhéus (2), Aurelino Leal (1), Itabuna (2), São Félix do Coribe (2) e Ubaitaba (1).

O número de desabrigados – que são as pessoas que perderam seus imóveis e precisam de apoio do poder público – está em 37.324. Já o total de desalojados – que são as pessoas que também perderam os imóveis, mas foram alocadas em casas de familiares – está em 53.934.

Ao todo, 629.398 pessoas foram afetadas pela chuva. O número de feridos aumentou de 358 pessoas para 434. Nesta quarta, 136 cidades seguem sob decreto de situação de emergência.

Acumulado de chuvas e previsão

 

Nas cidades de Lençóis, Caravelas e Ilhéus, o total de chuva em dezembro, até a manhã da última terça-feira era maior do que a média para todo mês e o maior para dezembro desde 1961.

O principal fenômeno meteorológico responsável pelas chuvas no estado foi a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

Segundo Mauro Bernasconi, meteorologista do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), o tempo na Bahia deve se manter firme nos próximos dias nas regiões nordeste e norte do estado.

“Para Salvador, o tempo também deve se manter firme, mas vale salientar que a capital baiana é uma região muito úmida e sempre existe a possibilidade de chuvas isoladas”, afirmou.

“Para o extremo sul do estado, o tempo deverá ter uma redução gradual de nebulosidade, na frequência e intensidade das chuvas até a virada do ano”, explicou.

Já para a região da Chapada e do oeste baiano, o meteorologista disse que as chuvas deverão se manter com intensidade moderada até o réveillon.

 G1