MP-BA investiga venda de cerâmicas de negros escravizados no aeroporto de Salvador

Nesta quarta-feira (9), o Ministério Público da Bahia anunciou a abertura de um procedimento para apurar a venda de peças de cerâmicas de negras e negros escravizados, no loja Hangar das Artes, no aeroporto de Salvador.

De acordo com o g1 Bahia, o órgão afirma ter recebido a denúncia na terça-feira (8). Já nesta quarta a Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo determinou a notificação da representante da loja para fornecer informações em até cinco dias, a contar a partir do recebimento da notificação.

O Ministério Público diz que após o envio das informações, avaliará quais medidas cabíveis serão tomadas contra a loja.

 

O caso

 

Ao se despedir de Salvador, um historiador carioca encontrou cerâmicas de negros e negras escravizados sendo vendidos em uma loja do aeroporto da capital baiana. A comercialização do produto gerou revolta do turista e de outras pessoas nas redes sociais.

Na foto publicada por por Paulo Cruz, de 39 anos, no final da tarde de domingo (6), da loja Handar das Artes, é possível ver as mercadorias com a etiqueta “Escravos cerâmica” e o valor de R$ 99,90 a unidade. No Instagram, o historiador destacou que a peça foi encontrada na cidade com mais negros na América.

A loja publicou uma nota de retratação no Instagram na qual afirma que é “uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte”.

Segundo a loja, as cerâmicas são referência à imagem do Preto(a) Velho(a) – “espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravizados, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia”, diz a nota.

“Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega”, se defende a loja. Por fim, a Hangar afirmou reconhecer a falha e disse que não voltará a repeti-la.

 

Repercussão

 

A repercussão ganhou força depois que o ativista Antônio Isupério compartilhou a revolta do historiador e criticou a vendas nas redes sociais.

“Você imagina que poderia ter um boneco de crianças judias em ‘forninhos’ para serem vendidas como adereços? Então, isso não acontece porque o repúdio à violência do Nazismo já está em domínio público, enquanto nós n*gros ainda estamos em processo de conquista da nossa humanidade”, disse ele.

Isupério também comentou na publicação da loja. “Caso o artesão seja negro, precisa ser orientado para produzir símbolos de empoderamento da luta como Zumbi e Dandara. Caso seja branco e só retirar mesmo.

 

Por; IBAHIA