Mulher diz que foi humilhada e atacada com leite quente por falar protocolos contra a Covid-19 em hotel de SP

A funcionária de um hotel de Bertioga, no litoral de São Paulo, que teve leite quente jogado em seu rosto por uma hóspede, disse ter se sentido humilhada com a situação, que aconteceu na frente de outros clientes. Em entrevista ao g1, nesta terça-feira (14), ela explicou que orientou a mulher sobre um protocolo de segurança contra a Covid-19 e foi surpreendida com a agressão.

A funcionária é encarregada geral do estabelecimento e preferiu não ser identificada. Ela conta que o caso aconteceu, por volta das 9h, no café da manhã do Indaiá Praia Hotel, no bairro Jardim Indaiá.

Uma hóspede, que estava com o filho e um cachorro, perguntou se podia soltar o animal em uma área do hotel. A funcionária explicou que isso não era permitido, conforme regulamento do local, e que a informação já havia sido passada no início da estadia.

Ela conta que a hóspede estava se servindo em uma mesa onde todos os outros clientes também escolhem os alimentos para o café da manhã. Por conta da Covid-19, o protocolo de segurança do local exige o uso de uma luva para pegar a garrafa de café mas, a hóspede se serviu sem o utensílio de segurança.

Por isso, a funcionária explica que avisou a hóspede sobre a regra. Em seguida, a encarregada foi pegar um guardanapo com álcool para higienizar o recipiente. Porém, quando ela voltou para limpar a garrafa de café, a hóspede jogou uma xícara de leite quente no rosto dela.

“Ela dizia que eu estava ‘tirando uma com a cara dela’ e eu expliquei que estava apenas orientando. Saí morrendo de vergonha porque o salão estava lotado. Optei por não chamar a polícia no momento para não causar um tumulto e traumatizar a criança [filho da hóspede]. Liguei para a gerente e me deram todo suporte. Ontem fiz [exame de] corpo de delito”, explica.

O leite quente atingiu a orelha direita e parte do couro cabeludo, já que ela virou o rosto no momento do incidente. Devido à temperatura do líquido, a funcionária teve queimaduras de 1º grau. Assustada com a situação e rodeada de clientes, ela saiu do salão, ligou para a gerente e foi orientada a ir ao médico. Depois, a funcionária também registrou um boletim de ocorrência.

“Foi uma humilhação. Na frente de todos os hóspedes, ela se sentiu no direito de fazer o que ela fez, foi humilhante. Não é só a dor física, mas os processos psicológicos. Eu fui em casa antes do hospital, estava muito nervosa, precisava de um suporte. Meu marido ia me dar apoio e eu não parava de chorar”, relembra.

 

Após o ocorrido, os demais hóspedes se indignaram com a situação e alguns se dispuseram a testemunhar a favor da funcionária. Segundo ela, outros trabalhadores do hotel disseram que foram abordados pela mesma mulher. Com um celular bem próximo às pessoas, ela questionou se a encarregada era uma pessoa grossa ou se dava problemas para o hotel.

“Eu me senti completamente humilhada, principalmente, em saber que depois que saí ela tentou inverter a situação como se a vítima fosse ela. As pessoas estão cada vez mais intolerantes, se sentem no direito de fazer o que bem entendem”, diz a funcionária.

Gerente

 

A gerente do hotel também falou com o g1. Ela também não quis ser identificada, mas conta que a autora da agressão está sendo investigada pela Polícia Civil. Após o episódio, ela permaneceu hospedada no hotel e só foi embora nesta segunda-feira (13). A profissional disse que a funcionária tem o apoio do estabelecimento para adotar as medidas legais referentes ao caso.

Ela ainda explicou que a encarregada geral trabalha no local há mais de cinco anos com a equipe e nunca recebeu reclamações dos demais hóspedes.

“Lamentamos o que aconteceu, porque isso para nós é um absurdo. No momento em que me informaram, liguei para ela, ela estava muito abalada. Nós acreditamos na postura dela, porque é uma funcionária exímia. Ela fez exatamente como o protocolo informa”, disse.

O caso foi registrado como lesão corporal na delegacia de Bertioga. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a vítima foi orientada quanto ao prazo para a representação criminal.

POR.G1