Alvo do Gaeco, empresário se afasta de grupo para obter confiança de credores

O empresário Eder Pinheiro, proprietário do Grupo Verde, foi afastado de suas funções de administração a pedido da própria organização, que move um processo de recuperação judicial com dívidas de mais de R$ 43,8 milhões. O próprio Eder Pinheiro pediu seu afastamento para viabilizar que suas empresas sejam submetidas a um processo de governança corporativa e compliance. Ele é o principal alvo da operação “Rota Final”, que apura atuação de uma quadrilha que teria “sabotado” a concessão do transporte rodoviário em Mato Grosso.

Em decisão publicada nesta sexta-feira (10), a juíza da 1ª Vara Cível de Falências do Tribunal de Justiça (TJMT), Anglizey Solivan de Oliveira, autorizou a substituição. No lugar do empresário, entra Thiago Affonso Diel, que trabalha no “jurídico” do Grupo Verde desde novembro de 2018, e terá o papel de chief executive officer (CEO, o cargo máximo de uma companhia).

“O Sr. Thiago trabalha no jurídico do Grupo desde novembro de 2018, atendendo todas as áreas da empresa, cuidando diariamente de questões ligadas à gestão e encontra-­se apto a gerenciar os recursos e operações, atuando como ponto central  de comunicação entre o operacional  e os conselhos de administração/consultivos que serão estabelecidos, e não representará os interesses pessoais do Sr. Éder, mas sim a função social da empresa”, garante o Grupo Verde no processo de recuperação judicial.

O objetivo da mudança é a implementação das metodologias de governança corporativa e compliance, entre elas, prover mais “transparência” à administração do Grupo Verde, bem como obter mais “confiança” dos credores, além de viabilizar linhas de crédito à companhia. Além da dívida milionária, a organização ainda responde por supostas fraudes na concessão do transporte rodoviário estadual, e que envolvem outros empresários e políticos de Mato Grosso.

A Verde Transportes, de Eder Pinheiro, é o principal alvo da operação “Rota Final”, que revelou um lobby entre políticos e empresários, incluindo pagamento de propina, para “barrar” a concessão do transporte intermunicipal de passageiros no estado. As diligências foram deflagradas pelo Grupo de Atuação Especial Contra Crime Organizado (Gaeco).

Conforme a denúncia das supostas fraudes, sem regras impostas pelo Poder Público (que estariam contidas numa concessão), as viações de ônibus basicamente “fazem o que querem” na prestação do serviço, uma vez que mantêm apenas contratos precários com a administração pública, sem estudos fundamentados.

Além da Verde Transportes, as empresas Viação Juína Transportes Eirelli, Empresa de Transporte Andorinha S/A, Viação Xavante Ltda e Viação Motta Ltda – e também o deputado estadual Dilmar Dal Bosco, bem como o ex-parlamentar Pedro Satélite -, também são investigados na operação.

Uma das iniciativas do grupo foi a criação de uma comissão, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), em 2015, para realizar um “estudo” sobre serviços de transporte rodoviário de passageiros no Estado. A comissão, porém, foi criada atendendo a uma demanda de empresários do setor, que tinham interesse na manutenção dos contratos de suas empresas de transporte.

Segundo os autos, o relatório final desta comissão na Assembleia Legislativa (ALMT) – que tinha presidência e relatoria de Pedro Satélite e Dilmar Dal Bosco, respectivamente -, e que recomendou a manutenção dos contratos precários das empresas de ônibus, sequer foi assinado pelos então parlamentares.

O MPMT aponta que representantes das próprias empresas de ônibus, capitaneadas pelo Sindicato dos Empresários do Setor de Transporte Intermunicipal de Passageiros (Setromat), “elaboraram” o documento. Júlio César Sales Lima, presidente do sindicato patronal, teria atuado ativamente no episódio.

Eder Augusto Pinheiro “nadou de braçada” com suas empresas de ônibus – Verde Transportes à frente. Sem regulação do Estado, cobrando o preço que queria nas passagens, e oferecendo serviços de qualidade questionável, o empresário faturou nada menos do que R$ 409,3 milhões só entre 2013 e 2017. Ele sofreu um bloqueio de bens determinado pela justiça que incluiu dois aviões, um Rolls Royce, R$ 29 milhões em contas bancárias, e diversos imóveis.

 

POR; FOLHAMAX