Após ameaça de massacre, pais relatam ao menos quatro bilhetes em Colégio de BH

“Vai acontecer um massacre dia 29! Cuidado”. A mensagem ameaçadora deixada em um banheiro do Colégio Batista na unidade Floresta, em Belo Horizonte/MG, nessa quinta-feira (15), deixou pais e alunos apavorados. Segundo os responsáveis pelos estudantes, este é o quarto recado deixado na instituição somente neste ano. Eles cobram maior transparência da unidade, visto que não foram informados dos demais. A direção da unidade alega que não existiram outras ameaças.

Além dos bilhetes, os pais contam que, em junho, houve ainda a explosão de uma bomba nos corredores do prédio. A insegurança no ambiente escolar acaba preocupando os pais. “Neste caso da bomba, felizmente ninguém se machucou. Na época, nós não ficamos sabendo, pois ninguém do colégio nos informou. Somente com o caso de hoje que fomos informados dos casos anteriores”, relata uma mãe que opta pelo anonimato.

A entrevistada comenta a preocupação de outros pais no grupo de WhatsApp que eles têm. “Eu estou muito assustada e preocupada. Este ano já teve bomba no corredor do 1º ano do ensino médio. O colégio tem que tomar providências urgentes”, enviou outro pai no grupo.

Os pais alegam estar preocupados com a integridade física dos estudantes, pois um funcionário da instituição os informou que essa foi a quarta vez que um bilhete foi deixado. “O conteúdo dos outros três nós não ficamos sabendo. O dessa quinta foi o de maior repercussão. Pode ter sido alguma coisa banal, mas a gente não está na mente de quem faz isso”, comenta a responsável por um aluno que está matriculado na instituição desde criança.

“Se é a quarta vez que esse episódio acontece, não estão levando as coisas a sério”, “Também acho que não estão tratando com a seriedade que o assunto merece. O comunicado [enviado pelo colégio aos pais] foi muito vago. Temos que cobrar mais da escola”, manifestaram os pais no grupo intitulado “Assunto Colégio”.

A falta de comunicação de alguns casos pela direção do colégio é compreendida, em partes, pela entrevistada, mas, mesmo assim, ela cobra mais comunicação. “Num ponto acredito que não querem nos preocupar para não nos alarmar, mas, por outro lado, precisamos saber o que acontece na escola. Eu não concordo com o fato de esconder”, afirma.

O QUE DIZ O COLÉGIO

 

Procurado por O TEMPO, o Colégio Batista esclareceu que “a escola não tem conhecimento de bilhetes anteriores”, e, por conta disso, “não houve comunicado em virtude de o fato não ter ocorrido anteriormente”.

Questionada sobre ações voltados com os alunos diante dos casos que têm acontecido, o Colégio Batista afirmou possuir “estratégias para conduzir situações que fogem à normalidade do cotidiano” e que “mantém uma equipe treinada e atuante na solução das demandas que podem surgir no percurso e tempo escolar”.

“Reiteramos que há 104 anos o Colégio Batista Mineiro é reconhecido pela sua proposta pedagógica diferenciada, baseada em princípios e valores. Atuamos no processo de formação integral dos estudantes com projetos pedagógicos, regras de convivência, palestras para estudantes e famílias e um programa próprio de Formação Ética e Socioemocional”, alegou em trecho do posicionamento.

INVESTIGAÇÃO

 

A Polícia Civil recebeu a denúncia de ameaça no Colégio Batista e instaurou procedimento para apuração dos fatos. “Os levantamentos estão sendo realizados e os trabalhos estão em andamento com a equipe da 1ª Delegacia de Polícia Civil Leste”, afirmou em nota.

ANÁLISE

 

Ameaças em escolas brasileiras, apesar dos casos recentes, ainda são raros, segundo o professor de Sociologia da Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), João Valdir Alves de Souza, quando comparado com outros países, principalmente os Estados Unidos.

“O caso do Colégio Batista é um clássico, seja pela ameaça ou efetivação. Nunca saberemos se será apenas uma brincadeira de mau gosto ou se pode efetivamente levar alguém às vias de fato. O que precisamos analisar é o momento em que as paixões políticas estão exacerbadas”, afirma.

Para o especialista, a “postura armamentista” defendida pelo governo federal “enche de coragem as pessoas para se armar do que estiver à disposição. “Seja arma branca, arma de fogo, sejam bombas. Os estudantes tiram proveito da situação e acabam se revelando, seja na ‘brincadeira’ ou no ato violento. O ambiente político é a peça chave que estimula. O agente que deveria desestimular acaba dando péssimo exemplo”, finaliza.

 

 

 

Por; O Tempo