“Óbvio que problema existe, mas Sorriso não é a cidade do medo”

Prefeito Ari Lafin afirma que disputa entre criminosos não está impactando no dia a dia do cidadão
MidiaNews
O prefeito de Sorriso Ari Lafin: “Estamos dando resposta”
DA REDAÇÃO
O prefeito de Sorriso Ari Lafin (PSDB) admitiu que a cidade está enfrentanto um problema grave com a violência decorrente de uma guerra entre facções criminosas. No entanto, rejeitou o título de “cidade do medo”, que estampou o noticiário nos últimos meses.

Temos que entender que a Educação é importante, fazer o aluno desenvolver
“Sorriso não é a cidade do medo. É uma cidade de enfrentamento neste momento, que está sendo mapeado pelas polícias investigativas e com operações da Polícia Militar trabalhando dia e noite para acabar com isso”, disse ele em entrevista ao MidiaNews.
O gestor afirmou ainda que, apesar dos assassinatos de faccionados, os moradores não vivem a sensação de medo no dia a dia. Segundo ele, os indices de violência cresceram em sua maioria por homicídios causados entre os criminosos.
“Os crimes que acontecem, os autores estão sendo presos. Então, estamos dando resposta, mas o problema é o enfrentamento que continua e a Polícia só consegue chegar quando os corpos já estão no chão. Estamos lutando muito para isso acabar, mas posso dizer com tranquilidade que a sensação de segurança é muito alta”, afirmou.
Para combater a guerra que ocorre na cidade, Ari Lafin disse apostar em um trabalho conjunto entre o Município e o Governo do Estado.
Ari Lafin – É um dos preços do desenvolvimento. É um município que cresce hoje 20 pontos percentuais ao ano e começa a ter problemas porque é um crescimento muito maior do que nosso poder de resolutividade tanto do município quanto por parte do Governo do Estado. Um deles é a segurança, que é um tema muito profundo no que diz respeito a um resultado.
Qual é responsabilidade do Poder Público Municipal? Primeiramente, é fazer o papel de casa. As mortes começaram lá em 2022 e em 2023 houve uma manutenção dessas mortes até que fomos anunciados como a 6ª cidade mais violenta do Brasil. Infelizmente, do jeito que está indo talvez fique nisso ou até piore.
Estamos cientes. Não estamos confortáveis com essa situação. Estou buscando enfrentar. Esse ano já autorizei a contratação de 40 novos professores de Educação Física. Nos bairros onde estão acontecendo conflitos estou entrando com mudanças, por exemplo, com campos de futebol, com professor de Educação Física para atrair a garotada na rua para as atividades extracurriculares. Nós precisamos tirá-los da rua e trazê-los para nós.
A Secretaria de Cultura fechou com 3.500 crianças inscritas nas nossas oficinas teatrais. Nossa meta é chegar a 5 mil crianças esse ano também aumentando atividades de de balé, flauta, nesses bairros que estão sofrendo com conflitos.
Ari Lafin – Sorriso acabou sendo alvo mais de 2022 para cá, mas isso já vinha existindo no Brasil. Porém, a partir daquele ano, isso se intensificou e precisamos que o Governo trabalhe com inteligência, porque enxugar gelo não adianta.
Temos que entender que a Educação é importante, fazer o aluno desenvolver na sala de aula. Se criarmos atrativos e descobrirmos qual a aptidão daquele cidadão, que às vezes não está tendo espaço e acaba indo para o mundo das coisas erradas, a pessoa pode virar um campeão do atletismo, no handebol, no vôlei, um cantor. Por isso investi mais verba para ajudar a Polícia nisso. Não quero que a Polícia tenha trabalho.
Se não tivéssemos tanta energia, tanta luta pelo que a gente faz, acho que não tinha só essa média, tinha o dobro ou o triplo [de assassinatos] e aí estaríamos em um caos. Hoje estamos em estado de alerta, mas não é um caos, porque a cidade não tem a sensação de medo.
Ari Lafin – Pelo que eu saiba, a Polícia Civil, através do trabalho de inteligência, está fazendo investigações, porém não chego a entrar nos detalhes.
A Polícia Federal também está fazendo esse trabalho. Tanto é que há 60 dias teve uma das maiores operações em Sorriso, 500 policiais, e estão buscando intensificar essa situação, que é bastante delicada.
Eles estão fazendo investigação e há pedido do governador Mauro Mendes para que Sorriso volte a ser uma cidade falada pelo agro.
Ari Lafin – Por incrível que pareça, a cidade não tem a sensação de insegurança. A cidade vive intensamente, as praças públicas lotadas, inclusive em bairros mais periféricos. Eu ando por lá, converso com as pessoas, os moradores andam na rua com celular na mão, nós não temos assaltos.
Os restaurantes estão lotados, hotéis lotados, o comércio não para. Agora no natal foi porta aberta até 22h. Tivemos dois assaltos anunciados de manhã e presos à tarde, porque a cidade está toda com câmera de vigilância.
Os crimes que acontecem, os autores estão sendo presos. Então, estamos dando resposta, mas o problema é o enfrentamento que continua e a Polícia só consegue chegar quando os corpos já estão no chão. Estamos lutando muito para isso acabar, mas posso dizer com tranquilidade que a sensação de segurança é muito alta.
O que afligiu muito a nossa cidade? A morte das quatro mulheres por um criminoso frio. Ali parece que veio para dar mais uma pancada em nós. E o fato virou não só regional, mas uma comoção mundial e até hoje a nossa cidade está abatida, as pessoas ficaram com medo, mulheres não querem ficar sozinhas em casa. O fator positivo dessa situação completamente negativa é que rapidamente prendeu esse monstro.
Ari Lafin – Contradigo. Sorriso não é a cidade do medo. É uma cidade de enfrentamento neste momento, que está sendo mapeado pelas polícias investigativas e com as operações da Polícia Militar trabalhando dia e noite para acabar com isso.
A cidade continua crescendo, portas estão se abrindo, comércio está crescendo, a indústria está chegando. Hoje, são 800 vagas de trabalho abertas e isso não teve impacto econômico.
Observamos a sensação de segurança na cidade por esse movimento, 18h famílias vão para as praças, os parquinhos lotados com crianças, inclusive nos bairros que estão ocorrendo os enfrentamentos tem pessoas andando 20h, 21h e até 22h. Então, o problema hoje é muito mais externo. Não vivemos isso lá, vivemos uma vida normal.
Ari Lafin – Não pensamos nisso ainda. Porém, se for necessário, sem problema algum.
Neste momento ainda não, porque não houve nenhum pedido das autoridades superiores, mas se for uma necessidade, por questão da polícia e do Poder Judiciário, é algo a ser analisado. Porque o que a gente precisa é manter a ordem e dar segurança à população de Sorriso.
Ari Lafin – Estamos pedindo efetivo. Precisamos de mais policiais em Sorriso. As operações que estão sendo feitas pelo Governo do Estado são boas, a Rotam tem ido para lá, a Cavalaria de Nova Mutum, a Força Tática… Não poderia dizer que a Polícia Militar não está recebendo apoio. Está. Mas precisamos de um efetivo maior.
É insuficiente para o crescimento, a tropa está cansada e isso é nítido. Acredito que lá temos uns 80 e precisaríamos nesse momento de pelo menos mais 40 militares. Isso porque os policiais têm férias, tem militar que está adoecido. A tropa nunca está completa para o comando.
Ari Lafin – A gente disponibiliza a jornada com recursos do município, eram R$ 32 e agora autorizei R$ 55 a hora. O comando analisa a carga horária e define: “Sexta-feira vou precisar do policial de tal hora a tal hora”.
Não é obrigado, é o policial que se disponibiliza. Pelo que a gente tem observado, a maioria aceita, porque tem amor pela cidade, as famílias deles estão lá e eles se oferecem, mas isso vai cansando.
A gente vê que o soldado precisa conviver com a família também, precisa descansar. Daqui a pouco, você joga muita carga e acaba adoecendo a tropa.
O coronel [Alexandre] Mendes [comandante geral da PM] nos recebeu muito bem. Ele falou que vai conversar com o governador, porque tem agora 500 policiais que estão sendo treinados na academia e que serão disponibilizados dentro de 60, 90 dias para ir aos quartéis.
Conversamos também com secretário estadual de Segurança [César Augusto] Roveri, que tem nos atendido muito bem. Ele não foge do problema, uma característica positiva. Ele também garantiu que vai conversar com o governador por Sorriso.
Ari Lafin – Sim. A nossa era Agente de Trânsito, agora a Câmara aprovou e os transformamos em Guarda Municipal. Eles vão passar por treinamento para que possam ter armas. No entanto, esse é um treinamento que pode levar de um a dois anos.
Hoje, já estão agindo e ajudando bastante, porém a arma deles é de choque. Em caso de perturbação de som é a nossa guarda, não mais a Polícia Militar. A PM deixamos para situações maiores.

Não poderia dizer que a Polícia Militar não está recebendo apoio. Está. Mas precisamos de um efetivo maior. É insuficiente para o crescimento, a tropa está cansada e isso é nítido
Ari Lafin – A Capital do Agro sofre com a imagem, porém repito que lá a gente não sente isso. Os negócios não estão sendo afetados. Por uma obediência de hierarquia, estou conversando muito com o Governo do Estado, porque a responsabilidade da manutenção da ordem e da segurança é do governador e do secretário de Segurança.
Acredito que se for necessário esse pedido, por questão de hierarquia, deverá sair do secretário de Segurança do Estado. Se houver necessidade, sim [seria bom]. Quanto mais reforço policial, melhor.
Ari Lafin – Nós só temos uma maneira de levar a sensação e condições reais de segurança para a nossa população. A partir do momento que o prefeito não lavar as mãos, enfrentando como estou, melhorando a condição de rede de proteção para crianças e adolescentes… Se os meus jovens estão morrendo, eu também tenho responsabilidade.
O Governo do Estado não está fugindo da reponsabilidade, inclusive está dando atenção com operações. Mandou de dois a quatro delegados e está comandando investigações com um exército de policiais civis. O governador está junto com a gente.
Agora, o Governo Federal tem que estar junto também. As três esferas têm que trabalhar juntos, porque se nesse momento de crise que estamos enfrentando viesse aqui na Capital dizer: “Isso não é minha responsabilidade”. Eu seria o primeiro a lavar as mãos.
Eu não posso fazer isso, tenho que ajudar e o Governo Federal tem que participar também, porque isso não é um problema só de Sorriso, isso está acontecendo em vários municípios, mas o nosso virou uma matéria diária. Quase todo dia tem morte, os mais humildes estão sofrendo e é onde a gente tem que ir mais.
Ari Lafin – A prisão perpétua, sim. Tenho uma preocupação com a pena de morte pela possibilidade de que sejam penalizados e mortos pessoas que possam ser inocentes.
Eu sou cristão, mas para ver como é complexo: nessa barbaridade que aconteceu em Sorriso… Ele [o pedreiro que matou mãe e três filhas] merece estar comendo as nossas custas? Quatro inocentes são assassinadas em uma sexta-feira à noite, facadas e abuso sexual… O cara volta e fica trabalhando normal na outra casa vizinha. Segunda-feira de manhã é descoberto o crime. Imagina a cena. O pai é motorista de caminhão, chega e os corpos estão sendo preparados no IML e na terça-feira ele vela quatro caixões.. Eu nunca vi um velório tão triste. Me senti um bosta como prefeito. Porque são da minha cidade.
Agora, velocidade do doutor Bruno [França, delegado] em descobrir a mancha, chinelo, a obra… Olhou o cara, na hora… Esse cara é fera. Três perguntas e está preso. Resposta rápida.
Então, defendo a perpétua sim e neste caso de comprovação, a morte. Deixando claro que sou cristão.
Ari Lafin – Sou otimista, porque estamos enfrentando o problema, não estamos virando as costas. Tanto eu, como Município, quanto o Governo do Estado, estamos unidos e buscando mapear o problema.
Estou mapeando pela questão social e de abraçar aquilo que me compete. Estou confiante, vamos vencer isso, trazendo essas vidas, salvando jovens e trazendo o município de novo para a linha do desenvolvimento econômico, da capital que produz e trabalha muito. Essa é a nossa marca.
Mas, o próximo gestor tem que ter a mesma atuação, não lavar a mãos e colocar a culpa no Estado ou no Governo Federal.