Pesquisa detecta agrotóxicos nos alimentos ultraprocessados consumidos pelos brasileiros

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) identificou vestígios de agrotóxicos em 14 de 24 produtos analisados de categorias dos alimentos ultraprocessados derivados da carne e leite mais consumidos no Brasil.

Os seis tipos que tiveram essas substâncias identificadas são: empanados de frango (nugget), requeijão, linguiça suína, mortadela, salsicha e hambúrguer de carne bovina.

O estudo tem a limitação de não conseguir identificar se a quantidade desses resíduos é prejudicial ou não à saúde humana. O Idec destaca que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também não estabelece limites para agrotóxicos em produtos ultraprocessados.

Como foi a pesquisa

 

O processo foi realizado através de uma análise de laboratório que permite identificar a presença de até 653 resíduos de agrotóxicos. A seleção dos alimentos e das marcas mais consumidas foi feita a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares e de pesquisas do mercado.

Os três produtos campeões em tipos de agrotóxico foram os empanados de frango e requeijões. Todas as categorias de produto com carne também tinham esses vestígios. Veja a lista:

Alimentos onde foram encontrados mais tipos de agrotóxico

Produto Tipos de agrotóxico
Nugget (Seara) 5
Requeijão (Vigor) 4
Requeijão (Itambé) 3
Nugget (Perdigão) 3
Nugget (Sadia) 2
Linguiça Suína (Seara) 1
Mortadela (Perdigão) 1
Mortadela (Seara) 1
Salsicha (Sadia) 1
Salsicha (Perdigão) 1
Salsicha (Aurora) 1
Hambúrguer bovino (Sadia) 1
Hambúrguer bovino (Perdigão) 1
Hambúrguer bovino (Seara) 1

g1 procurou as marcas citadas no estudo e aguarda um posicionamento. Até a última atualização, a BRF, controladora da Sadia e Perdigão, Vigor e a Seara responderam (veja ao final da matéria).

Dados defasados

 

Além disso, os autores criticam a Anvisa, que está há mais de três anos sem disponibilizar os dados de agrotóxicos nos alimentos, como mostrou o Jornal Nacional em maio deste ano (veja abaixo). O último levantamento da agência, divulgado em 2019, foi baseado em dados de 2017 e 2018.

“Apesar de nunca termos liberado tantos agrotóxicos na história do Brasil quanto nos últimos anos, nenhum resultado de resíduos em alimentos de coleta desde o início de seu mandato foi divulgado”, escreve o Idec.

 

Apenas duas das categorias separadas não tiveram agrotóxicos identificados entre seus produtos: iogurte ultraprocessado e bebida láctea do sabor chocolate. Os pesquisadores do Idec, no entanto, alertam que isso não confirma que eles não contenham as substâncias.

“O laboratório analisou apenas produtos de um único lote. É possível que o produto analisado tenha dado resultado negativo para a presença de resíduos nesse lote, mas que o resultado seja diferente para outros lotes”, informaram.

É possível minimizar os riscos causados por alguns agrotóxicos à saúde humana lavando bem os alimentos em casa. Mas alguns produtos químicos entram nas células das plantas. Por isso, o uso de agrotóxicos continua sendo polêmico.

O que diz a BRF, representante da Sadia e Perdigão

 

“A BRF esclarece que seus produtos são devidamente fiscalizados por órgãos competentes, como a Anvisa e o MAPA, que utilizam padrões internacionais de pesquisa para detecção de eventuais resíduos de defensivos agrícolas, eventualmente utilizados pelos produtores de insumos na ração animal. A Companhia ressalta que aplica internamente rigorosos padrões de qualidade que atendem à regulamentação da própria Anvisa e do MAPA e são reconhecidos por diversos organismos de controle. A Companhia informa, também, que retornou o contato do IDEC respondendo a todos os questionamentos levantados pelo instituto.”

O que diz a Seara

 

“A Seara forneceu ao Idec, em março de 2022, respostas técnicas detalhadas sobre os itens supostamente encontrados em seus produtos e lamenta que esses esclarecimentos não tenham sido contemplados no relatório publicado. Todos os produtos avaliados respeitam os parâmetros para itens alimentares regulamentados pela ANVISA.

A empresa mantém vigilância ativa de controle de matérias-primas de origem animal, vegetal e mineral, além de laboratório próprio dedicado a pesquisas de resíduos e contaminantes. Reforçamos o compromisso com a qualidade dos nossos produtos Seara, que é reconhecida mundialmente.

As unidades têm processos de controle rigorosos e, além de submetidas a inspeções públicas, são auditadas por clientes dos mercados interno e externo.”

O que diz a Vigor

 

A Vigor realiza controles de qualidade com os mais altos padrões encontrados no mercado e, de acordo com o estabelecido na legislação pertinente, controla e examina seus insumos, neste caso, o leite.

Sobre o estudo em questão, a empresa informa que não teve acesso a informações importantes para que pudesse, na ocasião, analisar e rastrear o lote do produto citado, tais como data de fabricação e/ou validade do produto, laudo técnico, laboratório onde foi realizada a análise, data de realização do exame e método específico utilizado.

A companhia reforça que realiza constantemente programas de controle interno em todas as suas unidades fabris e postos de captação de leite, bem como o monitoramento através de laboratórios credenciados na rede brasileira de qualidade do Leite-RBQL, não tendo verificado a presença de inseticidas, acaricidas e agrotóxicos em seus produtos.

Além disso, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), por meio de coletas do programa nacional, controla constantemente a presença dessas substâncias, estando a Vigor em plena conformidade.

A empresa reforça mais uma vez que preza pela saúde e o bem-estar de seus consumidores e tem como prioridade a Segurança dos Alimentos, bem como a garantia da qualidade de seus produtos em todas as etapas da cadeia de produção.

Por;G1